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sexta-feira, abril 20, 2007

Palimpsestos



Alguns se vão, outros haverão de aparecer, como numa leve dança de teatro contínuo. O tempo não admite alegorias reversas e a memória não admite porvir. Triste momento inevitável de conteúdos deletérios ou, quem sabe, reescritos compulsivamente para questionar uma dor já em suma fragilidade. Ergo meu baluarte como me convêm. As palavras combinadas são infindáveis, enquanto as coisas se delimitam num escopo de experiências dicotômicas, malditas e benditas. Minha pele torna-se enrijecida pela amargura de tantas tempestades e carrego comigo as cicatrizes que apagam e reescrevem minhas intempéries de juventude, de repulsas e volúpias. Recordo-me daquela que vira - num pretérito mais que perfeito - e só vejo outras que, cedo ou tarde, não mais me lembrarão. Olharei para o espelho e, vagamente, saudarei com saúde aquela que num dia, manteve-se a anular por tanto tempo a minha lancinante solidão.


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