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quarta-feira, outubro 14, 2015

Violência


Programa policial ao vivo, quinze anos em atividade. Cidadão de Bem, o nome. Sensacionalista. Estava prestes a começar. O âncora é acostumado com a violência endêmica. Público banalizado. Apostava a mãe que não haveria sossego na cidade, bêbado de uísque. Ganhava muito dinheiro. Milionário. Helicóptero sobrevoa com o comandante comentarista. Atenção! No ar! Cinco minutos; dez minutos; quinze minutos... A audiência aumenta muito, anuncia o assistente. Anunciantes se entusiasmam. Semblante preocupado, um suor frio desce a testa. Olhar apreensivo para o diretor, disfarça o pré-ataque de pânico diante das câmeras. Vinte minutos; vinte e cinco minutos... Comandante e apresentador observam. Nenhuma palavra trocada. A tensão aumenta. Aeronave continua sobrevoando. Periferia. Bairro mais violento. Polícia ali tem medo. Ligam mais duas câmeras para dinamizar as buscas. Rompem o silêncio. "Comandante, acione o canhão de luz". "Já está acionado". Não encontra nada? Nada, ainda! Os telespectadores tuitam com hashtags. Trend Topics. Perguntam o que está acontecendo. Alguém responde: "o problema é esse". "Está estranho", diz uma menina. Outro, religioso: "Meu Deus! É o fim do mundo! #jesusvoltando". Conseguiu mil e poucos retweets em vinte minutos.