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quinta-feira, agosto 09, 2007

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Foi dormir em vão como em todas as outras noites. havia passado vários anos e sua altura não era a mesma, seu rosto não era polido e sua visão se ofuscava diante de tanta claridade. O cansaço lhe tremia os pés. Podia não ser mais o mesmo para se lembrar de muitas coisas. Entretanto, uma em particular permanecia intocável em sua enfraquecida memória, como a peça rara de um obcecado colecionador. A emoção era a mesma desde que havia sido reconhecido, diante da multidão, num chamejante encontro de olhar advindo de um majestoso abraço delicado. Era ela, era ele e mais ninguém em todo aquele ruído infernal. Tantos anos se passaram e, em sua fatigada velhice, este pensamento fotográfico da juventude insistia em vir à tona momentos antes de dormir. Todos os dias. Levantava, como de costume, para beber um pouco d'água enquanto respirava o ar da madrugada taciturna, questionando-se onde estaria ela, com quais companhias e se estaria feliz. Adoraria revê-la para saberSem respostas, sempre volta para a cama frustrado e atropelado pela nova realidade que compunha sua cansada rotina: a longa distância que o mundo do trabalho impunha aos dois. Ele nunca se realizou com ela, por não ter tido força em arrancar da garganta tudo aquilo que ele segurou e que não era dele... Eram dela aquelas palavras estupidamente censuradas. Era, definitivamente, um lasso por excelência e merecia o que passava, diriam muitos que o conhecera, e com razão. Este homem envelhecido se amenizava sempre que frequentava o mar, para escutar os seus trovões espumados, fosse dia ou fosse noite, refletindo sobre como ele havia se rarefeito numa absurda insistência de juntar o ilusório encontro entre o céu e o mar. E ao retornar para casa, tornava-se leve, tanto quanto as diminutas nuvens algodoadas daquela noite, quando conseguia o ansiado sono ao descansar a face no travesseiro.


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