Café

Achou aquela agenda, aquela. Tinha um número interessante de uma amiga das antigas. Resolveu ligar. Ligou.

- Alô?
- Vamos tomar um café?
- Como?
- Sou eu, Márcio. Ainda lembra?
- Meus Deus! Por onde você andava, seu traste! Claro, onde você está?! Vamos sim, quero te rever.
- Passo ai em meia hora, não mais que isso.
Era uma quarta-feira qualquer, mas não para ele. Era o dia dela e da vontade inadiável de revê-la. Mesma data em que ele a conheceu quando resolveu adentrar de penetra numa festa qualquer com amigos. Chegou ao cantinho onde ela se esconde e deu um toquinho com o celular sem créditos, pouco tempo depois ela chegou e entrou no carro com a mesma beleza com que havia saído anos antes. O mesmo sorriso também. Ele logo sentiu uma fragrância interessante e pensou alto.
- Ai tem coisa!
- Como?
- Nada...
Abraçaram-se e, como ali tinha coisa, segundo suas intenções, não se envergonhou em beijá-la o mais próximo da boca. Ela deixou, em silêncio, olhando imediatamente para o outro lado, de modo a evitá-lo aos olhos para não entregar-lhe de bandeja uma malícia que era para mais tarde. E ele não descuidou. Após uma rápida prosa introdutória... ela estava sozinha e ele também.
- Então, que bom te ver! Enquanto a gente não acha os nossos, vamos tomar este café aonde? De repente, lá a gente arranja.
- Com você, eu prefiro outra bebida.
Pediu para perder a elegância:
- Cerveja?
- Você não muda mesmo, né? Continua o mesmo proletário de sempre. Vamos!
E foram... Não tardaram em começar pelo avesso exatamente como se conheceram, entregaram-se ao primeiro olhar obsequioso quando chegaram a um barzinho na mouraria. Sentaram, olharam-se e sorriram mascaradamente.
- A gente não muda mesmo.
- É minha amiga...
E as bocas se encontraram em sutil toque e com vontade de riso daquela situação ambígua que para eles parecia perfeita. E era... somente dois amigos infanto-juvenis que destrambelharam-se a falar abobrinhas pelo resto da noite e esquecer, ao menos ali, de outras questões morais sobre valores e comportamento.