Não me acomodo em ver as pessoas como elas realmente são. Estranho? Vou me explicar. Acho que seria uma atitude trivial de quem já perdeu todo o encanto pelas coisas. O Encanto. A maioria pensa que a realidade é coisa fácil, que é aquilo que está na cara da gente, sem metáforas, e, portanto, inevitavelmente bela, ou feia. Jamais foi de minha simpatia ouvir a falsa máxima, "aceite as pessoas como elas realmente são", tarefa impossível, penso eu, pois como vou saber quando as pessoas estão realmente sendo? Deveras um engano grave. Quem não faz das pessoas constantes metáforas, sobretudo das melhores, volta e meia se depara com as tragédias humanas que elas são. Às vezes, acusam-me de fantasiar essa ou aquela. E os acusadores, em geral, e curiosamente, são aqueles que mais reclamam do modo dessa ou daquela. Vivem a reclamar da natureza alheia. Eu não tenho certeza, mas, às vezes, penso que talvez seja por isso que reclamo tão pouco das idiossincrasias daquelas que me acompanham. Simplesmente não aceito-as como são, mas como poderiam ser. Encantadas. Tais quais os encantados dos povos indígenas brasileiros. Se fantasio, se crio personagens para aquelas com as quais me envolvo, é porque acredito que elas podem ser muito mais do que os meus olhos vêem, muito mais do que uma simples imagem imediata, pré-julgada real e, por conta disso, pretensamente mais verdadeira. Aquilo que cada um esconde de si, o que não é raro, é o que mais levo em conta quando busco aperfeiçoá-los em minha imaginação, fico tentando acertá-los naquilo que excedem, pelo simples prazer de querer enxergá-los acima de qualquer coisa nesse vai e vem. Não me contento em percebê-los aquém do que se vê, enfearia e limitaria meu/nosso mundo. O único desafio que se me apresenta desconcertante é quando ouço deles o "eu não sou quem você está pensando". Neste caso, minha construção se esfacela lançando-me a novas e ignotas personagens. E continua sendo bom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário